Meu Livro

 

 

 

 Dedicatória do livro

 

        Este trabalho foi concluído após quatro anos de muito esforço e dedicação.  O livro tem por base estudos de capoeira, psicologia, religião, filosofia, ciências, história, poesias e bate papos com amigos capoeiristas e não capoeiristas.

        Eu dedico este livro a todos que fazem parte da minha história de vida e de capoeira, dentre essas pessoas destaco Expedito Bezerra de Lima (meu avô), o Professor de capoeira Alex Sandro (meu primeiro professor), Professor Anderson Wescley (meu amigo e irmão), a todos os meus alunos, e por último, mas não menos importante a Deus e a Jesus de Nazaré, os quais foram a minha inspiração maior.

  

A Caverna do meu Eu

 

        Lá estava eu, dentro de uma caverna escura, na entrada da caverna era uma descida, acho, eu estava amarrado de costas para a entrada, nunca tinha visto nada além da parede que estava à minha frente. Quando chegava à noite, a lua cheia clareava dentro da caverna, e tudo que passasse na entrada, sua sombra era projetada na parede de pedra na minha frente, então eu achava que era um Deus ou algo assim, não sabia o que era cor  e nem contorno. Luz? Só a da lua. Em um dia do mês quando a lua nascia em um lugar diferente e clareava minhas costas. Não sabia quem eu era, me alimentava de esperanças e bebia os meus sonhos para saciar minha sede.

        Mas, um dia as correntes ficaram mais fracas que minhas forças, e mesmo sem querer quebrá-las, eu quebrei. Virei ansiosamente para a entrada e vi um raio de luz, mas o medo era grande para ir ao encontro desse raio, e por muito tempo fiquei preso comigo mesmo em meu próprio silêncio. A noite chegou, então tive a coragem de sair da caverna, e encontrei coisas estranhas que não acreditei. Vi uma pedra, um mosquito em meu braço, tudo era belo e novo, vi que a luz que me clareava não era má, vi árvores e folhas que cheirei, tentei provar e gostei, eu estava entrando no mundo do natural onde as cores e luzes não são importantes. O meu suor passou a amargar como fel, eu não lembrava mais que ainda existiam esperanças para me alimentar.Hoje eu não acredito em mais nada do que eu acreditava antes. Afinal, eu era um preso de uma caverna escura, vejo hoje um homem eclético e sábio demais para entender as coisas simples da natureza, a luz da lua não é mais tão brilhante e bela como antes. Vejo hoje um homem que dorme e tem pesadelos terríveis, sonhando que esta acorrentado dentro de uma caverna, e foi aí que vi que não sou mais o mesmo, mas será que sempre fui o mesmo em toda a minha vida? Afinal quem me colocou acorrentado na caverna? Devo ter vindo de algum lugar, mas de onde? E como? Teria eu nascido de uma corrente como se fosse um botão de rosas?

        Interrogações eram muitas, mais é meu dever saber quem eu sou. Como saberei para onde eu vou se não sei de onde eu venho, que sábio não sabe as coisas de si mesmo? Ainda lembro-me do cantar do pássaro e o quanto sorri ao ouví-lo. Ah! se eu tivesse um corpo, só assim ele poderia ser transformado, mas meu Eu nunca será o eu de outro ser, se eu tivesse um corpo ele poderia me explicar tudo isso. Mas descobri qual é minha origem, sou filho de uma mágoa, e meu pai se chamava dor, eu não nasci, não estou vivo, sou apenas um pensamento. Existi, no entanto, por pouquíssimo tempo na cabeça de alguém, sou apenas fruto de uma imaginação, o meu nome é futuro, nunca chegarei, nunca serei passado, esse é o meu fim.

 

 

Semi-oculto  

 

 

        Ao amanhecer na necrópole, nas barras de um dia chuvoso de sol foi onde eu me encontrei, percebi que o meu epitáfio já tinha sido inaugurado há muito tempo, me aproximei para ler e vi que estava escrito com letras de ouro, teria sido a única vez que eu mereci  um presente tão nobre?

        Minha vida foi escrita por mim, e muitos falam que esse meu passado pode ser apócrifo. Tolerante e seguro ergo a minha cabeça, e vejo a planta aguada com o choro do meu sangue dando frutos que caem e ferem minha psicossomatização benigna. Após as pedras de mármore em minha volta eu sou nobre e lembrado, e meus pertences têm valores inestimáveis, e vi que assim como as pedras podem amolecer, ainda mais, um coração de cera. No entanto, o choro de ontem não vale para a dor de hoje, isso é irremissível para uns e remissível para mim. Todos estão contando o que acham que sobrou da minha história, e eu ainda estou pendurado no tempo segurando-me em um galho de pensamento.

        Da minha atual moradia vêem minha antiga morada rodeada de parentes e amigos segurando belas máscaras invisíveis, e não vejo para quem eu perguntaria por que esse choro? Economizaram tudo para agora, e agora não podem mais usar as próprias economias. Peço que me avisem quando puderem dar-me o que é meu, hoje eu tenho tempo de sobra para esperar, enquanto isso fico taciturno em meu batente de lazurita, que ganhei quando eu tinha vizinho.

        A cada batida de asas para o alto todos ficam cada vez mais parecidos uns com os outros, e agora já não vejo mais a cor nem as marcas das tristezas, agora sou da altura de todos mas, nem todos são da minha altura. Agora me lembro que no fim de tudo o que restou foi um assustador eco de ovações, e observo tudo do mesmo batente precioso.

Somos nós quem determinamos o que é valioso e o que não é valioso para nós. Diariamente, temos em nossa vida momentos de um valor inestimável, momentos estes que são, por exemplo: o calor e o brilho do sol, ver o claro da lua e a luz das estrelas, o sorriso de um filho ou de uma pessoa que nos ama, a atenção de um amigo um parente, sentir, ouvir, ver, correr e falar, são momentos que nem sempre damos credibilidade. Existem milhões de coisas a nossa volta que nós não damos o real valor enquanto não perdemos a condição de possuí-los. Tenho certeza que se pudéssemos escolher entre um quilo de ouro no túmulo ou um anel de 30 gramas em nosso dedo, preferiríamos o anel. Do mesmo modo, mais vale um abraço sincero de um amigo hoje, que cem amigos chorando em meu sepultamento.       

 De segundo em segundo, a chama da vela fica cada vez menor e menos intensa, e o tempo não pára para nós, nós é que paramos para o tempo. Viver não é sobreviver, viver não consiste apenas em acordar, ir para o trabalho, e quando chegar à noite achar que é o fim do dia.

 Valorizar as pessoas, independentemente, de sua classe social, valorizar as amizades e a família, valorizar a cultura, são fatores indispensáveis à vida, pois já dizem As Escrituras Sagradas, o fim está próximo. A vida é um desafio constante em forma de aventura, e viver é uma arte. 

 

É o fracasso que nos faz fortes

        Construí a minha vida com um pequeno martelo que saía constantemente do seu cabo, com pregos enferrujados e madeira de terceira qualidade, às vezes pisava sobre penas, porém, apenas para descansar um pouco meus pés. Mas, sempre caminhei em espinhos, não porque queria, e sim porque era o único caminho que tinha. Se voltasse ao passado não queria, nem trocaria meu pequeno martelo e meus pregos enferrujados por boas ferramentas. Para muitos, ter muito não tem valor, enquanto que para outros é o seu tudo. Algumas vezes o pouco para quem não tem nada é muito, para quem tem tudo não é nada.

        A Capoeira para uma infinidade de pessoas vem com naturalidade e termina na naturalidade, para outros vem com muitas dificuldades, e torna-se valiosíssima por ter ele aprendido e ganhado a capoeira por merecimento e, não como um prêmio de valor. Desse maneira, quem aprende a capoeira semelhante a quem navega no mar em um pequeno barco, e tendo um só remo, também é digno de representar a sua linhagem. Quem passar pelos pequenos testes da capoeira em seu agora, terá motivos de sobra para praticar a capoeira no seu amanhã, porque nem todos os começos são flores, todos terão no início de sua vida capoeirística centenas de motivos para parar de praticar capoeira, e talvez não encontre apenas um para continuar a praticá-la. Todavia, no futuro até mesmo os motivos que outrora foram contra, ficarão também a favor da capoeira. No princípio, até mesmo a esperança era um luxo do qual eu não tinha o direito possuir.

  Em tempos de muitas dores encontrei algo sem cor e sem nome que estava escondido dentro de minha cabeça, e até mesmo hoje não consigo explicar o que é esse sentimento, apenas sinto, apenas mexe comigo como se fosse um forte ciclone que me leva contra a minha vontade, e domina todos os meus desejos, redirecionando o meu destino com o controle da vida e da morte.

  Morreram as esperanças, morreram os sonhos e até mesmo o mais forte desejo de vitória, até o meu último átomo sofria, mas o que me levou ser quem sou nem a filosofia, nem a psicologia, nem as ciências, e nem mesmo a mais avançada tecnologia descobriram. Desde que o mundo é mundo, todo o dinheiro que foi produzido até hoje não compram um mestrado. Não adianta o mundo aprovar-me se sei que na verdade estou reprovado. Minhas ferramentas não eram novas, por esse motivo eu construí com calma e paciência minha jornada, mas também tive ajuda para conseguir construir o que construí, só assim todo o meu fracasso me fez ser forte.

 

Será ele pó?

 

 Acredito que cada um de nós tem um sábio Rei e um mendigo solitário dentro de si, assim como também, um mestre e um e um aprendiz ignorante. Por muitas vezes, me fiz de sábio entre os sábios, e também de ignorante em meio aos ignorantes. Estou querendo aprender com tudo que está nessa galáxia, mas não posso e nem devo ensinar a todos que estão em minha volta, estou certo que nem todos podem ser sábios como procuro ser. O mestre tenta ter humildade ao ponto de dizer que não sabe de nada, imitando assim, um tolo aluno. Do mesmo modo, o aluno quer ser mestre espalhando para todos que está bem perto de ser mestre, o discípulo quer ser mestre e o mestre quer ser discípulo.

 E ainda haverá o dia em que os mestres voltarão para  o lugar de onde vieram, ou seja, voltarão para o pó, pois foi do pó que viemos.

        E mestre se transforma em ?

        Fazendo parte da história de um povo não serei somente pó, mas serei também. Morre o homem e fica o eco do nome dele, melhor dizendo, Mestre Pastinha é , mas, não é . Fisicamente, todos os que morreram se tornaram pó, mas espiritualmente nem todos os mortos são pó.        

 Os homens que fizeram história no Brasil e no mundo para sempre viverão, pois eles estão na história de um povo, de uma nação e para sempre serão lembrados.

 Se alguém perguntasse o nome de seu tataravô, qual seria a sua resposta? Responderia dizendo que não sabe? E se alguém perguntasse quem foi Tiradentes? Obviamente você saberia a resposta. A diferença entre seu avô e Tiradentes é que Tiradentes fez o seu destino, construíu o seu presente e o seu futuro, permanecendo ainda hoje na memória do povo. É como se os nossos antepassados não tivessem existido, pois não sabemos o nome e nem como eles viveram, ficando assim um desafio para a geração presente. Será que um dia seremos denominados apenas como antepassados para a geração futura ou faremos uma eterna história? Cada artista escolhe a sua arte. Somos, única e exclusivamente, nós que determinamos o nosso futuro.

  A vida é um livro em branco esperando o dia-a-dia para ser publicado.

 

 

Eu e a capoeira

                                         

Voltar seus pensamentos para a roda de capoeira na hora de jogar, é fundamental para se ter um bom jogo. Jogar capoeira é semelhante a um momento de sexo para os homens, não se consegue apenas com o corpo, e isso é uma prova que não somos apenas carne. Todos os nossos pensamentos devem estar voltados para o ato de jogar capoeira, e muitos tiram o pensamento para outras coisas, ficando de fora da melhor parte.

Não é exclusivamente o corpo que faz a capoeira, por exemplo, se você está com medo o seu jogo vai ser diferente de um jogo no qual você está alegre. Do mesmo modo, também fazemos um jogo completamente diferente se formos jogar com uma criança ou com um mestre de aparência estranha. O nosso consciente manda informações negativas para o nosso subconsciente quando nós sentimos ameaçados ou em perigo, e terminamos por fazer um jogo diferente dependendo da pessoa com quem estamos jogando. Vamos imaginar se nós tivéssemos esse controle sobre nossos pensamentos, será que mudaria em algo na capoeira e na nossa vida?

Portanto, é essencial que haja naturalidade, calma e paciência na roda de capoeira e na vida. Perder o controle na capoeira ou na vida, significa também, que o indivíduo não pode controlar seus atos e desejos, e isso o atrapalhará, quer seja na capoeira, quer seja em sua vida pessoal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OBS: Aqui está apenas uma pequena parte do meu livro, sem correção, estou disposto a receber críticas e sugestões para a melhoria do livro e também do site.